
O estudo revela que tanto beneficiários quanto não beneficiários igualmente pobres trabalham, em média, o mesmo número de horas. Mas, no caso dos que recebem o Bolsa Família, as atividades no setor informal predominam, com eles trabalhando, em média, oito horas a mais do que os demais em ocupações sem carteira assinada.
O MDS argumenta que o tema precisa ser melhor investigado, pois outra pesquisa — a Pnad, do IBGE — indica que o percentual de beneficiários do Bolsa Família com emprego formal cresceu de 28% para 34% de 2006 a 2009. O estudo divulgado esta semana, no entanto, tem metodologia diferente por focar na comparação entre grupos similares. Segundo o MDS, pode estar havendo uma incompreensão das famílias sobre as regras do programa, pois, na verdade, o beneficiário não é proibido de ter carteira assinada. O que define o direito ao benefício é o total da renda per capita da família. Mesmo se conseguir aumento de renda, o beneficiário ainda pode ficar no programa por mais dois anos.
Professora de Economia da UFF, Hildete Pereira de Melo diz que a confusão é comum: — Muitas pessoas acham que não podem ter carteira para entrar no programa. E isso causa uma certa fuga de trabalho com carteira, certa preocupação, sobretudo por parte das mulheres, que são quem recebe o benefício. No trabalho informal, a pessoa até pode ultrapassar a faixa de renda do programa, mas não haverá prova disso.
O governo diz que a situação constatada em 2009 pode ter sido já atenuada com medidas tomadas pelo MDS para dar mais segurança a famílias que deixam o programa após melhoria na renda, mas que, ao perder o emprego, retornam à pobreza e são reincorporadas ao Bolsa.
A economista Lena Lavinas, da UFRJ, afirma que é preciso considerar que houve crescimento do emprego formal na década passada. Ela argumenta que há um grupo de beneficiários que, por serem extremamente pobres e de baixa qualificação, não conseguem acesso a esses postos formais, mesmo em situações de crescimento econômico.
Rafael Osório, pesquisador do Ipea, diz que é preciso considerar que os beneficiários já têm ligação precária com o mercado de trabalho. Segundo ele, pode ter acontecido de pessoas que já estavam no mercado informal terem continuado e aumentado o número de horas trabalhadas.
Outra questão que os autores do estudo levantam é que trabalhadores com carteira, mesmo que elegíveis para o benefício, tenham mais dificuldade para ingressar no programa.
O Globo
Fonte: G1