"Decapitação" de estátua de Iemanjá causa revolta na Paraíba

Para autoridades paraibanas, não passou de vandalismo. Para militantes dos direitos humanos e do movimento negro, foi um ato de intolerância religiosa.

O fato é que a estátua de Iemanjá que fica na praça de mesmo nome na praia turística do Cabo Branco, em João Pessoa, amanheceu "decapitada" no início da semana.

A cabeça foi colocada no chão, ao lado da imagem de concreto, que tem cerca de 2,5 metros e quase 20 anos. A base foi escavada.

"Foi intolerância. Estamos tristes e indignados. Por que decapitar e deixar a cabeça certinha no chão?", diz mãe Renilda, presidente da federação de cultos afro-brasileiros da Paraíba.

O episódio levou o Conselho Estadual dos Direitos Humanos --que é presidido por um padre-- a publicar nota de repúdio contra o "desrespeito à diversidade religiosa".

"As pessoas agredidas, principalmente, são as adeptas das religiões de matrizes africanas e ameríndias, candomblecistas, umbandistas e juremeiros", afirma a nota.

A seccional da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) na Paraíba prepara uma nota de repúdio, que até a tarde de ontem havia sido subscrita por outras sete entidades --entre elas, a Convenção Nacional de Pastores e Teólogos, que representa evangélicos.

Para amanhã, militantes e simpatizantes marcaram um ato em frente à estátua, às 9h, por respeito às religiões e mais segurança no local.

"Foi uma coisa brutal, sem precedentes, que choca", diz Fernando Milanez Neto, chefe da Coordenadoria do Patrimônio Cultural da prefeitura, sobre a "decapitação".

"Mas não quero acreditar que tenha sido por intolerância religiosa, porque assim vai ser difícil conviver em sociedade. Não temos nada que prove isso ainda", afirma.

Segundo Milanez Neto, a cabeça foi recolocada ontem. A praça e o entorno serão revitalizados em breve, disse.

A delegacia na praia vizinha de Tambaú informou que o caso não foi registrado e que não abriu investigação pois ninguém prestou queixa. Em 2011, as mãos da mesma Iemanjá haviam sido arrancadas.

Fonte: Nordeste1 Com Folha